É impossível prever – embora muitos estejam tentando – aonde irá nos levar a disputa tarifária entre Brasil e EUA. Diz a maioria dos economistas que, se de fato o governo americano aumentá-las para 50% a partir de agosto, como ameaçou, haverá impactos enormes sobre toda a economia brasileira. Trump já voltou atrás em decisões semelhantes, pressionado pelas empresas americanas que também saem perdendo com essa decisão, então o melhor a fazer é esperar.
Não entro aqui nas motivações políticas do presidente americano, mas pode se afirmar que, se há um setor beneficiado por essa sua desastrada decisão, são as empresas chinesas instaladas no Brasil. Num levantamento recente, o jornal Folha de São Paulo listou 30 marcas chinesas que chegaram aqui desde 2015 e que crescem a todo vapor. Há as mais famosas (BYD, Shopee, Aliexpress, TikTok) e algumas menos comentadas (Jovi, Temu, Midea), todas com espantosos números de expansão.
E, claro, a lista inclui várias marcas de tecnologia que comentamos aqui com frequência: TCL, Hisense, Huawei, Oppo, Xiaomi. Basta entrar em qualquer site de compras para sentir a presença avassaladora de produtos chineses – e nem estou citando marcas menores, que entram ilegalmente no país, mas que também conquistam boa parte dos consumidores brasileiros (vejam aqui).
Fenômeno planejado
Segundo o jornal, hoje 26% das importações brasileiras vêm da China, enquanto os EUA, que em 2023 nos mandavam 23% delas, agora têm 16%. Só neste primeiro semestre, aumentou em 12% a quantidade de produtos chineses vendidos no Brasil, sendo que maio bateu o recorde: entraram 110% mais itens chineses do que no mesmo mês do ano passado (os dados são da FGV). Este é o link para a reportagem, recheada de dados importantes.
São basicamente duas as explicações para o fenômeno. A primeira, talvez mais importante, é que em 2015 o governo chinês estabeleceu um ambicioso plano de incentivo às exportações para mercados emergentes como o Brasil, criando fundos de investimento que apoiam as empresas citadas. A segunda é que o próprio mercado interno chinês dá sinais de saturação, levando suas empresas a investir em outros mercados.
Como se vê, nada disso é novo, ao contrário, vem sendo estudado e planejado pelos chineses há décadas, como explico neste outro post que alguns leitores devem se lembrar.