A corrida para o lançamento da TV 3.0, no Brasil e em outros países, entra em sua reta final, e isso não é mera coincidência. A ideia é aproveitar a próxima Copa do Mundo, que pela primeira vez será disputada em três países (EUA, México e Canadá), para implantar inovações tecnológicas que têm tudo a ver com o futuro da mídia televisão.
Pressionadas pela queda nas receitas e na audiência, enquanto vêem as plataformas online crescerem sem parar, as emissoras tradicionais enxergam a Copa 2026 como o palco ideal para atrair os telespectadores. Isso certamente vai trazer mais anunciantes, e são eles, em última análise, que vão bancar os custos (altos) de introdução da TV 3.0 no país (aqui, algumas pistas).
Já virou tradição: quase toda Olimpíada ou Copa do Mundo serve de plataforma para o lançamento de novas tecnologias. Foi assim já em 1970, com o lançamento da TV em cores; em 1974, as transmissões via satélite; em 2006, a alta definição; em 2014, a TV 4K, entre outros eventos; até chegarmos a 2018, quando a Copa da Rússia foi acompanhada via internet.

sensores espalhados pelos estádios.
Para 2026, a bola da vez é a TV 3.0. Além do Brasil, países como EUA, Coreia, Japão, Reino Unido e Alemanha, entre outros, estão se estruturando para uma cobertura maciça e em tempo real, não apenas dos jogos, mas dos bastidores nas 16 cidades-sede (desta vez, serão 48 seleções).
No caso brasileiro, o projeto da TV 3.0 envolveu órgãos do governo, fabricantes de equipamentos, emissoras e universidades, que vêm trabalhando juntos desde 2020 sob a coordenação do Fórum SBTVD (veja aqui os detalhes). O padrão DTV+, resultado desses estudos, é um híbrido de tecnologias internacionais com soluções desenvolvidas aqui dentro.
Embora a base seja o padrão americano ATSC 3.0, já usado há cerca de dois anos com sucesso, por exemplo, nas transmissões da NBA e da NFL, os técnicos brasileiros adicionaram uma série de inovações adaptadas dos sistemas adotados em outros países. E há uma diferença essencial, de conceito: o padrão americano é restrito a aplicações pagas como a TV sob demanda, enquanto o DTV+ será totalmente gratuito para o público.
Nas especificações técnicas, o ATSC 3.0 utiliza o tradicional codec HEVC para compressão de sinal de vídeo (H.265), enquanto no Brasil será usado o codec VVC (H.266), considerado mais eficiente. No áudio, a opção americana foi pelo Dolby AC-4, enquanto aqui se escolheu o codec MPEG-H 3D (ou MPH4), de áudio imersivo.

no padrão alemão MPH4.
Há também diferenças em aspectos como cobertura do sinal, disponibilidade de frequência para transmissões a dispositivos móveis, interatividade e obrigatoriedade de seguir um cronograma de implantação (nos EUA, as emissoras são livres para aderir quando quiserem).
Copa 2026: principais inovações na TV

Contraste, intensidade das cores, reprodução de imagens em movimento (essencial em esportes)… as transmissões dos jogos na Copa serão bem superiores às que estamos acostumados. O padrão DTV+ suporta resolução 4K e 8K, áudio imersivo e vários outros recursos. Confira:

1.Imagens de ação: a frequência de atualização de quadros (fps) foi estipulada em 120Hz. Detalhes da bola, movimentos dos jogadores, torcida etc. serão captados com maior precisão. Além disso, a atualização será pelo método progressivo (não entrelaçado), o que resulta em maior nitidez.
2.HDR: as imagens serão captadas em High Dynamic Range, o que significa maior realismo, muito mais brilho e riqueza nas transições de cores.
3.Multiângulos: o telespectador poderá escolher entre vários ângulos de câmera durante cada jogo; haverá muito mais câmeras instaladas em cada estádio.
4.Trilhas de áudio: será possível também escolher seu narrador preferido, entre tipos diferentes de narração, ou nenhum deles, ficando apenas com o som ambiente ou o barulho da torcida.
5.Áudio imersivo: TVs e receptores compatíveis com DTV+ terão processamento de áudio mais detalhado e envolvente, através do codec MPH-4, do Instituto Fraunhofer, da Alemanha (veja o vídeo).

adicionais sobre os jogos.
6.Interatividade: com seu controle remoto, o fã de futebol também poderá participar de enquetes, rever lances do jogo e obter estatísticas sobre a Copa e as seleções.
7.Tela dividida: outra opção será dividir a tela em duas, vendo o jogo em uma e na outra exibindo melhores momentos ou informações adicionais.
Ainda não está definido como será na prática, mas o padrão DTV+ permite inúmeros formatos de publicidade inseridos sobre a tela (veja aqui um exemplo). O usuário poderá, por exemplo, clicar na roupa de um personagem para ser encaminhado a uma loja conveniada com a emissora. No futebol, isso permite a comercialização dinâmica de produtos relacionados aos clubes. Cada emissora poderá criar seu modelo de negócio.
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