Revolução tecnológica será televisada (e patrocinada)

Por J. Max Robins*

Nove anos atrás, caminhando pelos estandes da gigantesca CES, fiquei espantado como tantas redes de televisão corriam por todos os lados à procura das novas magias tecnológicas. Vivíamos na prática o conceito de Marshall McLuhan: “o meio é a mensagem”. Naquele 2007, comentava-se com entusiasmo inovações como a recém-lançada Apple TV e a incrível quantidade de dispositivos DVR (Digital Video Recorder) para gravações domésticas.

Este ano, vemos telas de TV que podem ser enroladas e abertas como um jornal; dispositivos de realidade virtual chamando a atenção; e, claro, sistemas OTT (over-the-top) que são um incentivo ao cancelamento das assinaturas com operadoras de TV paga. Já andei checando uma lista enorme de séries antigas que estão sendo relançadas, além de inúmeras séries novas (que terei de encontrar tempo para ver), produzidas por gente como Amazon, Netflix e Hulu. Enquanto isso, tenho ficado acordado até tarde, com meu iPad, imerson em maratonas de séries – como Fargo e Making a Murderer – que nos fazem sentir como se o tempo fosse muito curto para assistir a tudo que desejamos.

Hoje, quase tudo a que assisto é on-demand. Como tanta gente, estou aprendendo a construir meu próprio “horário nobre”. E me pergunto o que faria se fosse um anunciante importante, que precisa atingir grandes audiências. A resposta de um amigo, como provocação, é: “A mídia de massas está mais ou menos morta.”

Sem dúvida, a inovação tecnológica, embora estimule a criatividade, está tirando da mídia boa parte do público. Recentemente, numa página da seção de economia do New York Times (que, aliás, estava lendo num café, atualmente o único lugar onde leio jornais impressos), encontrei um anúncio de página inteira com a chamada: “CES 2016: ou inovar”. Era um anúncio da consultoria de mídia MediaLink e do grupo Starcom Mediavest.

“O marketing está diretamente atrelado à tecnologia, não apenas do ponto de vista do comportamento do consumidor, mas também quanto aos mecanismos de marketing”, escreveu o CEO da MediaLink, Michael Kassan, ao convocar os profissionais de marketing a visitar e participar da CES. Ele definiu o evento como “uma estrada essential para um mundo de mudanças aceleradas.”

Concordo, mas não consigo deixar de pensar nesta ironia: a empresa escolheu uma página de jornal impresso para passar essa mensagem. Com certeza, é uma decisão à moda antiga. Mesmo assim, o anúncio contém ícones sugerindo ao leitor que baixe um aplicativo para ver, na tela do seu tablet, notebook ou smartphone, “uma experiência de realidade aumentada.”

Isso, sim, é aumentar a realidade.

*O autor dirige a ong Center for Communications (http://www.centerforcommunication.org). Artigo publicado originalmente no site Media Post, especializado em novas mídias. Para ler o original na íntegra, clique aqui.